O trabalho teve início em 2009, com a aprovação do edital Bolsa Estímulo à Criação, da FUNARTE. A proposta do projeto era ir à campo conversar com representantes de reservas Guarani e Kaingang, bem como iniciados na religião do Batuque do Rio Grande do Sul, para tentar compreender um pouco do papel da música e da ritualística presentes em suas respectivas culturas, e daí retirar material para a composição de um espetáculo.
Sabemos que a música exerce forte estímulo sensorial. Um ritual é um conjunto de gestos, palavras e formalidades atribuídas de um valor simbólico, cujo sentido é usualmente prescrito por uma religião ou pelas tradições de uma comunidade. A música ritualística é muito ligada à terra e ao folclore, apela ao imaginário, ao mito, à magia, e faz a ligação entre a potencialidade espiritual e física.
Um ponto em comum nas conversas com todos os entrevistados foi o fato de eles terem relatado, além dos mitos, cantos e ritmos de suas culturas, as histórias de suas vidas. Lembrando fatos ocorridos na infância, a família, as andanças e realizações alcançadas, forneceram matéria viva para a composição das músicas. A partir daí, os temas foram pensados como "histórias sonoras", ilustrando a vida de um indivíduo até a morte, "passagem" para um outro mundo, segundo as crenças das culturas pesquisadas.
Cada etapa do caminho ganhou uma trilha sonora recheada de referências aos cantos e toques religiosos, somadas às histórias dos entrevistados, algumas pitadas de experimentação e a visão artística dos compositores e intérpretes do trabalho.
