Porto Alegre, Viamão, Cacique Doble, Mato Preto, Caxias do Sul, Canela, Osório... Na etapa de entrevistas e coleta de material, foram feitas visitas a reservas indígenas e Casas de Batuque, com o intuito de situar os músicos no universo sonoro das culturas em foco.
Guaranis: Para eles, o canto é uma inspiração divina enviada através dos sonhos, tendo o poder de curar as pessoas e fortalecer a vida comunitária. O entrevistado para o projeto foi o Cacique Joel Pereira, de Mato Preto. A comunidade possui um grupo de cantos tradicionais, chamado "Añhandu Miri", formado por um coral de crianças e músicos, sendo o próprio Joel um deles. "Añhandu Miri" significa "Pequeno Sol". Na ocasião da primeira visita, o grupo apresentou uma canção que, traduzida para o português pelo cacique, falava sobre as crianças serem o futuro e a esperança do mundo. A experiência de ouvir o coro de crianças foi tão tocante que a melodia apresentada serviu de inspiração para a música que marca a fase da infância, que também leva o nome do grupo.
A maior parte das informações musicais Kaingang foram fornecidas pelo músico e artista plástico porto-alegrense Jorge Herrmann. Ele contribuiu com dois CD's de cantos tradicionais compilados por ele e outros músicos, bem como informações sobre suas vivências e o contato do Kuiã (pajé) Zílio, que estava acampado em Canela. Zílio nos contou sobre a crença kaingang no tempo mitológico do Gufã, onde os animais falavam, e nos mostrou cantos como o pénkrig tynh kãme, que conta a história da formiga cantando a alegria de trabalhar. Essa melodia foi usada em momentos diferentes, "costurando" as músicas do espetáculo e nos remetendo ao trabalho que temos durante nossa "passagem" por aqui. Também foi utilizado o kujá ta vãser kri tynh kãme, que é um canto do Kuiã para as pessoas que já partiram.
Para o embasamento musical, foram entrevistados os Alabês (tamboreiros) Wagner de Oxalá, em Caxias do Sul, e Antônio Carlos de Xangô, em Viamão. Wagner exemplificou várias "pancadas" da Nação Cabinda, e contou um pouco da mitologia por trás dos toques e dos Orixás. A entrevista com Wagner culminou com uma festa na Casa de Pai Antônio de Bará, para um melhor entendimento da musicalidade do Batuque.
Antônio Carlos de Xangô, o principal entrevistado para o trabalho, é um dos tamboreiros mais antigos e respeitados do Estado. Também é professor para iniciantes no Ilú, tambor utilizado na religião, tendo desenvolvido um método próprio de ensinar e até de "reger" os Alabês em festas. As "pancadas" apresentadas por ele foram inspiração para a parte rítmica das composições, principalmente por se tratarem de maneiras mais tradicionais de se tocar o Ilú. A emoção e entrega com que ele cantava foi, sem dúvida, um norte para o trabalho.